segunda-feira, 21 de junho de 2010

Insónia

São duas, depois três da manhã. Quase quatro e nada. Cada segundo me parece um minuto e cada minuto um quarto de hora. Mais vale anotar alguns pensamentos que me vêm à cabeça:

Enquanto guiava, ontem, veio-me esta ideia à cabeça: Na juventude, o pedal mais importante é o acelerador; na terceira idade, o travão. Mas os velhos que vivem com o travão a fundo gastam-no depressa.

Toda a arte é tosca, imperfeita. Uma obra-prima não passa de um falhanço admirável.

Publicar mais livros para quê? Para não ser compreendido, ou ignorado? Mais vale seguir o conselho de Cioran e limitar-me a anotar pensamentos que possa, eventualmente, murmurar ao ouvido de um bêbado, ou de um moribundo.

Apercebo-me agora (foi preciso esperar pelos 60 anos) que é totalmente estúpido esperar alguma espécie de justiça neste mundo. Não há nada de justo, nem nesta sociedade, nem sequer na Natureza. Até nascer me parece uma injustiça.

Para Cioran (sempre ele), nascer é a primeira e maior desgraça de todas. E ser pai é um crime. Um crime que ele nunca cometeu. Infelizmente, inclino-me a pensar que ele tem razão. Por mim, preferia nunca ter nascido (mesmo se isso é impensável).
Resta-me esperar que os meus filhos me perdoem, caso pensem como eu.

1 comentário:

Anónimo disse...

A vida não se mede pelo critério justiça/injustiça. E a desgraça, não fosse ela um termo tão dramático, bem vistas as coisas, como é do domínio público, é um outro ponto de vista para olhar o cómico. Quem não ama a vida pode sempre descartá-la, mas que deita fora o que de melhor e pior tem, também não se duvide. Por mim, não a consigo desprezar. Mas gozá-la, entre o escárnio e o prazer, a dor e a alegria é o meu maior desejo. De preferência, pudessemos nós, até aos mil.

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