terça-feira, 13 de julho de 2010

Torres Novas (sábado)


Fim de semana em Torres Novas sob o signo de Miguel de Unamuno, mais precisamente de um livrinho intitulado Portugal, Povo de Suicidas. Escrito há cem anos, mais coisa menos coisa, o pequeno opúsculo agora reeditado pela Abismo (magnífico nome para uma editora dos nossos dias), permanece absolutamente actual. «Portugal parece a pátria dos amores tristes e dos grandes naufrágios», escreve o filósofo espanhol. Considera-nos um «povo brando, pacífico, sofrido e resignado» e afirma, sempre cheio de razão: «o português é constitucionalmente pessimista».
Em duas ou três ocasiões, sempre a propósito, lembra-nos o célebre verso do soneto de António Nobre que clama: «Amigos/ Que desgraça nascer em Portugal!». Outro português que Unamuno cita abundantemente é Manuel Laranjeira que numa carta para Espanha escreveu: «... sobre nós pesa a herança trágica, secular, duma ignorância podre e duma corrupção criminosa». E mais adiante: «... tenho a impressão intolerável e louca de que em Portugal todos trazemos os olhos vestidos de luto por nós mesmos».
Manuel Laranjeira é o tal que afirmava que «neste malfadado país, tudo o que é nobre suicida-se: tudo o que é canalha triunfa». E que suicidou mesmo, tal como o fizeram Antero de Quental, Camilo Castelo Branco e Soares dos Reis, para apenas citar três portugueses que Unamuno conhecia.
«A desilusão pode ser uma força de vida», assegura Miguel de Unamuno a dado passo. Não sei se concordo, mas espero que seja bem verdade outro dos seus aforismos: «A ira mais terrível é a dos mansos».


1 comentário:

Anónimo disse...

Putz, Jorge,infelizmente, é tudo verdade!JHB

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