Acabo de reler O Processo de Kafka. Li-o não como uma ficção, mas como o relato de uma realidade bem mais real do que aquela a que a vida moderna nos “reduziu”. Por exemplo, a sociedade judiciária que ele descreve representa, não apenas a sociedade dos homens na qual estamos “presos”, como moscas numa rede de teias de aranha, mas a nossa própria condição de mortais conscientes da sua efemeridade, perdidos algures num Universo infinito, à mercê de uma Natureza que nunca poderemos nem entender, nem verdadeiramente amar. No capítulo judicial, não apenas no livro de Kafka, mas também no domínio mais comezinho das instituições e empresas das quais somos escravos, tudo se passa, no meu entender, como se o homem quisesse reproduzir, através de um conjunto infindável de leis e de regras, quase sempre incompreensíveis, a complexidade e a inexorabilidade da própria Natureza, aos olhos da qual não temos o mínimo significado como indivíduos. O Processo vem ainda lembrar-nos de que fomos, ou seremos, todos condenados à morte, de uma maneira ou de outra, sem nunca saber porquê. E também que a mente humana, que está “programada” para viver eternamente, encontra-se encerrada num corpo perecível, dir-se-ia que por castigo.
1 comentário:
continuo a lê-lo como num labirinto do qual desconhecesse que não tem saída. abraço
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