Entre o Céu e a Terra, de Rui Chafes é um dos melhores livros que li nos últimos tempos. Resumindo, diria que se trata da obra de um homem que aprendeu a lidar com os seus limites, com os limites da matéria (é escultor) e a "transformar esses limites numa marca da passagem do sopro que transforma o peso da matéria na leveza do espirito". De um homem que aceita as imperfeições do real com a mesma voracidade com que devora as suas ânsias.
Dividido em duas partes, o livro começa por propor uma autobiografia (ficcionada, mas verdadeira), seguindo-se uma série de fragmentos e aforismos à maneira de Novais, onde se fala, por exemplo, do "suave medo do escuro" e da "barreira que nos isola dos outros".
Entre o Céu e a Terra é um livro impregnado pelo "sentido do sagrado" onde um artista se confessa e se confronta consigo mesmo, sabendo que "não existe nenhum prémio, nenhuma recompensa".
No final, o autor ainda encontra tempo para nos falar, com rara inteligência, sobre poesia. Diz ele: "O sentido poético (...) é o que nos permite agir sobre o mundo mediante uma deslocação, por vezes mínima, de sentido ou de ponto de vista". E, mais adiante: "A poesia não é uma outra linguagem, é, sobretudo, um outro olhar".
Rui Chafes encerra o livro com estas palavras: "As buganvílias quando fenecem e se apagam lentamente, libertam, no exacto momento em que a sua luz se extingue, um suave odor a rapariga adormecida na madrugada".
P.S. - A fotografia de Rui Chafes foi publicada na revista Up
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