segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Da fotografia

Quando anda na rua a fotografar, o fotógrafo é uma criança, guiada unicamente pelo seu prazer, a sua imaginação, a sua inocência. Inocência? Sim, não há, na minha opinião, ninguém mais inocente do que um fotógrafo quer tira as fotografias que querem ser tiradas.

Da fotografia

Qualquer fotografia é, por natureza, incompleta. É por isso que é sempre preciso fazer mais.

Da fotografia

O fotógrafo nunca se deve desculpar por ter feito uma fotografia e nunca deveria ter de a explicar. A única coisa que devia dizer é: Não gostas? Não olhes!"

Do aborrecimento

Só as pessoas aborrecidas se aborrecem, diz-se. E eu digo-o também, convencido de que nunca me aborreço. Ou melhor, de que raramente me aborreço. De resto, não sou eu que me aborreço, são os outros que me aborrecem. Isto é: só me aborreço na companhia de alguém aborrecido, incapaz de me interessar pelo que está a dizer. Os tagarelas, os fala-barato, os que não me deixam ir embora, esses é que me aborrecem. Ou seja, se por vezes me aborreço, é porque sou demasiado bem-educado.
Em O Prazer do Texto, Roland Barthes afirma que o aborrecimento não é simples. Na verdade, a frase completa diz: “Não há nada a fazer, o aborrecimento não é simples”. Não há nada a fazer! Aqui está: as pessoas aborrecem-se geralmente quando não há nada a fazer, quando não há nada para fazer. Mas há sempre algo a fazer. Pensar, por exemplo. Ou imaginar, que é outra forma, mais livre, mais solta, de pensar. As pessoas inteligentes, imaginativas, não se aborrecem com facilidade. “E então Baudelaire?”
, perguntarão. Sim, parece que Baudelaire se aborrecia por vezes, ele que não pode ser acusado de falta de inteligência, ou de imaginação. É por isso, digo eu, que Barthes tem razão: esta questão do aborrecimento tem muito que se lhe diga. Embora eu tenha a maior dificuldade em o conceber, talvez ele tenha razão quando assegura: “O aborrecimento não está longe da fruição: é a fruição vista das margens do prazer”. 

A frase é bonita, sedutora e parece certeira, sem dúvida, mas que quer ele realmente dizer com isto? Confesso a minha confusão. Contudo, apetece glosá-lo e escrever: A morte não está longe da vida: é a vida vista das margens do Letes.

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