terça-feira, 30 de agosto de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
terça-feira, 23 de agosto de 2011
sábado, 20 de agosto de 2011
Raul Ruiz
O médico que o operou disse-lhe que ele tinha um tumor atípico. Ele achou piada, pois ele próprio era atípico, inclassificável.
O cancro levou-o aos 70 anos, antes que pudesse realizar a continuação de «Os Mistérios de Lisboa» (na foto de abertura), a sua obra-prima, que ele temia poder ser o seu testamento. Sobre esse filme, um jornalista da revista Les Inrockuptibles escreveu que é «um folhetim cinematográfico et um filme folhetinesco que reunia todos os sortilégios do cinema ruiziano: narrativas encaixadas umas nas outras,com argumentos retorcidos, personagens bífidas, cenários e figurinos rigorosos, embriaguez ficcional temperada de distanciação e humor, classicismo eivado de modernidade e malícia barroca».
Diz-se que Raul Ruiz, realizador chileno que era também francês, e… um pouco português, realizou quase 120 filmes. Para minha vergonha, só vi o último, mas nunca mais me vou esquecer dele. Até por causa de frases como esta, que não resisto a citar:
«Porque é que o português é tão cinematográfico? Por causa do seu discurso implícito, do que está por detrás da língua, incluindo o silêncio. Quando começamos a falar em francês, sabemos mais ou menos como vai acabar a frase, e o discurso explícito é mais forte do que o resto. Enquanto em português ou em chileno, dizer as coisas frontalmente é considerado obsceno. Daí o encanto indefinível dos actores portugueses quando dizem as suas réplicas: parecem garos a ronronar.»
Le médecin qui l’a opéré lui a dit que sa tumeur était atipique. Ce qui lui a fait sourire, car toute lui aussi était atypique, inclassable.
Il est mort d’un cancer à 70 ans, avant qu’il puisse filmer la suite de «Les Mystères de Lisbonne» (photo en haut), son chef-d’œuvre, qu’il craignait être son testament. Un journaliste du magazine Les Inrocks a décrit le film comme un «feuilleton cinématographique et film feuilletonesque qui recèle tous les sortilèges du cinéma ruizien : récits gigognes, scénarios torsadés, personnages bifides, décors et costumes ouvragés, ivresse fictionnelle tempérée de distanciation et d’humour, classicisme rehaussé de modernité et de malice baroque».
Raul Ruiz, cinéaste chilien qui était aussi français, et un peu portugais, a signé presque 120 films. Malheureusement, je n’ai vu que le dernier, mais je ne vais jamais l’oublier. D’autant plus qu’il était capable de dire des choses comme celle-ci: «Pourquoi le portugais est-il si cinématographique ? En raison de son discours implicite, de ce qui est derrière la langue, y compris le silence. En français, quand on commence à parler, on sait à peu près comment on va finir la phrase, et le discours explicite est plus fort que tout. Tandis qu'en portugais ou en chilien, dire les choses frontalement est carrément obscène. De là le charme indéfinissable des acteurs portugais disant leur texte : on dirait tout le temps des chats en train de ronronner. »
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Da fotografia
Wittgenstein afirmou um dia que só devíamos filosofar através de poemas. Ou de fotografias, acrescentaria eu.
Através da fotografia procuro conhecer o meu lugar no mundo, e os efeitos do mundo em mim. Um fotógrafo, tal como o entendo, é, para usar uma expressão de Milan Kundera, «um explorador da existência».
A fotografia tem isto em comum com a filosofia: é um trabalho interior, uma forma de procurar uma nova maneira de ver as coisas.
Tal como uma caneta e um caderno me ajudam a pensar, uma máquina fotográfica ajuda-me a sentir, a interrogar-me sobre a vida secreta dos meus sentimentos.
Kleist terá dito um dia que gostaria de transmitir as suas ideias sem a ajuda de palavras. Talvez seja isto mesmo que, enquanto fotógrafo, procuro fazer. Não tanto transmitir ideias, na verdade, mas antes partilhar interrogações, surpresas e deslumbramentos.
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terça-feira, 16 de agosto de 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
sábado, 13 de agosto de 2011
Da velhice
Simone de Beauvoir afirmava que a velhice é-nos imposta pelos outros. Segundo ela, não temos a idade que julgamos ter, mas a idade que os outros nos impõem. Quanto a Michelet, chamava à velhice «esse lento suicídio».
Simone de Beauvoir disait que la vieillesse nous est imposée de l’extérieur. Selon elle, nous n’avons pas l’âge que nous croyons avoir, mais celle que les autres nous imposent. Michelet, lui, disait que «la vieillesse est un long suicide».
Simone de Beauvoir disait que la vieillesse nous est imposée de l’extérieur. Selon elle, nous n’avons pas l’âge que nous croyons avoir, mais celle que les autres nous imposent. Michelet, lui, disait que «la vieillesse est un long suicide».
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Pensamentos do dia
Para mim, a verdadeira fotografia é imagem e pensamento. Por isso, procuro fotos que, aos meus olhos, sejam como aforismos ou haikus.
Pour moi, la photo tiens autant de l’image que de la pensée. C'est pourquoi je cherche à faire des photos qui, à mes yeux, seraient comme des aphorismes ou des haikus.
*
Infelizmente, nenhum diálogo é tão enriquecedor do que aquele que mantenho comigo mesmo. Eu sou, para mim mesmo, um campo infinito de possibilidades.
Malheureusement, aucun dialogue n’est aussi enrichissant que celui que je maintiens avec moi-même. Je suis, à mes propres yeux, un champ infini de possibilités.
*
Não há lugares seguros. Estamos expostos a tudo, e todos, permanentemente. O acaso é a regra e a lei é a morte.
Il n’y a pas de lieux sûrs. Nous sommes exposés tout le temps, partout. Le hasard est la règle et la mort la loi.
*
Não há liberdade sem disciplina. Mas a única disciplina necessária é interior.
Il n’y a pas de liberté sans discipline. Mais l’unique disciple dont on a besoin est intérieure.
*
Sou pelos ritmos irregulares, pelas dissonâncias harmoniosas. A música deve questionar-nos, inquietar-nos, mas não aborrecer-nos ou agredir-nos. Para mim, música e silêncio não são contrários. As canções que prefiro estão na natureza: o som de um regato a correr, o riso de um bebé, a brisa que faz tremer as árvores. Haverá música mais bela?
J’aime les rythmes irréguliers, les dissonances harmonieuses. La musique doit nous interpeler, mettre en question, mais sans nous ennuyer ou nous agresser. Pour moi, musique et silence ne sont pas incompatibles. Les chansons que je préfère sont dans la nature : le son d’un ruisseau, le rire d’un bébé, le vent qui taquine les arbres. Y a-t-il musique plus belle ?
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Pensamentos do dia
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Luminarium
Fomos ontem visitar o «Luminarium» no Rossio. Uma espécie de tenda insuflável, de formas variáveis inspiradas pela arquitectura islâmica e as catedrais góticas, onde podemos deambular calmamente através de túneis/labirintos muito coloridos. Gostámos todos da experiência, a começar pelo Lucas, evidentemente, e eu pude tirar algumas fotos engraçadas.
Hier nous sommes allés visiter le Luminarium, à Rossio. Une sorte de tente gonflable, avec toutes sortes de formes géométriques, inspirées par l’architecture islamique et les cathédrales gotiques, et où l’on peut se promener calmement, a travers des tunnels/labyrinthes très colorés. On a beaucoup aimé l’expérience, surtout Lucas, et j’ai pu prendre quelques photos curieuses.
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quarta-feira, 3 de agosto de 2011
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Confissão
Estou-me nas tintas para a literatura. Não escrevo para ser compreendido, não tenho essa pretensão, pois sei que isso não é verdadeiramente possível (como mesmo os meus melhores amigos se encarregam de mo provar constantemente). Escrevo para me aprofundar, digamos assim. O que eu procuro, na minha inocência, é chegar ao meu eu profundo, através de aforismos porque, aos meus olhos, só eles vão directos ao essencial.
Je ne veux pas faire de la littérature. Je n'écris pas pour me faire comprendre, je sais que cela n'est pas possible (comme même mes meilleurs amis me le prouvent si souvent). J'écris pour creuser en moi, disons. Ce que je cherche, dans mon innocence, c'est d'aller au plus profond de moi-même, grâce à des aphorismes parce-que, à mes yeux, c'est la meilleure façon d'aller à l'essentiel.
Je ne veux pas faire de la littérature. Je n'écris pas pour me faire comprendre, je sais que cela n'est pas possible (comme même mes meilleurs amis me le prouvent si souvent). J'écris pour creuser en moi, disons. Ce que je cherche, dans mon innocence, c'est d'aller au plus profond de moi-même, grâce à des aphorismes parce-que, à mes yeux, c'est la meilleure façon d'aller à l'essentiel.
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Confissão
CCB
Marc Augé: «Notre relation à l’image et à l’espace se presente sous un double aspect: nous recevons des images (fixes ou mobiles) et nous en fabriquons. Fabriquer des images (photographier, filmer), c’est à la fois s’approprier l’espace et le transformer, d’une certaine manière: le consomer.»
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