Dois idosos, sentados num banco de jardim, contemplam um pequeno lago. Ouve-se o sussurro das árvores agitadas pela brisa e os pardais que por ali passam constantemente.
ELA (suspirando) – Na sua infinita sabedoria, Deus há-de ter em conta a forma como as pessoas envelhecem.
ELE – Será que, aos olhos de Deus, envelhecemos?
ELA – Tens razão. Para Ele o tempo deve passar tão lentamente que nada chega verdadeiramente a acontecer.
ELE – Pergunto mesmo se, para Ele, a vida e a morte não são exactamente a mesma coisa.
Ela ri. Um esquilo surge do nada e sobe à árvore à sombra da qual eles conversam.
ELE – Repara: este lago é um espelho para as nuvens.
ELA – Repara: vêm morrer aqui todos os ruídos da cidade…
Pausa.
ELE – Tudo o que aqui vemos podia dar origem a um verso.
ELA – O que eu gostaria mesmo, seria que me amasses como a brisa sopra. E senti-lo como a superfície do lago sente o vento.
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