quinta-feira, 20 de maio de 2010

Linha de Água (novos poemas)

Enquanto mexo o café,

Os cheiros da terra

Invadem os meus pensamentos.

Ouço dizer : as águas cantam

Tristezas profundas

Numa ânsia de segredos

A que ninguém é alheio.

Esquecido do tempo,

Procuro ouvir no vento

Os rumores mais sábios.

***

Ouço o esvoaçar de um pássaro ao longe.

Ouço as flores, ouço as nuvens e pergunto :

«O verdadeiro amor é humilde ou efémero?».

***

O calor transforma o silêncio

Num jardim feminino.

Para exclusivo prazer

Da minha imaginação.

***

A poesia é uma voz insistente,

Partida ao meio.

De um lado está o tempo,

Do outro, a alma.

***

Sentado nesta esplanada

Sinto-me um marinheiro sem mar,

Procurando um novo mundo

Do outro lado da avenida.

***

Esperando que a sombra me ilumine,

Recordo histórias inverosímeis.

E penso: nas asas de uma borboleta

Está toda a poesia que precisamos.

***

Eis como vejo este momento:

Como um jardim

Que posso segurar numa mão.

A minha solidão é apenas

Uma parte da minha vasta obra.

E todos os meus poemas me perturbam

Mais do que saberia dizer.

***

Atrás do vidro, num café,

Escuto o silêncio das flores

Que a todo o momento

Espero ver incendiarem o meu caderno.

***

Ei-lo, o lago.

Um olho no rosto fulgurante

Da cidade.

Tudo nele é conforme ao meu desejo,

Menos o excesso de ruído.

De bom grado calaria

Estas aves, o rumor animal do vento

E esta voz interior que insiste:

«Num poema,

O que morre primeiro

São as palavras».

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