Enquanto mexo o café,
Os cheiros da terra
Invadem os meus pensamentos.
Ouço dizer : as águas cantam
Tristezas profundas
Numa ânsia de segredos
A que ninguém é alheio.
Esquecido do tempo,
Procuro ouvir no vento
Os rumores mais sábios.
***
Ouço o esvoaçar de um pássaro ao longe.
Ouço as flores, ouço as nuvens e pergunto :
«O verdadeiro amor é humilde ou efémero?».
***
O calor transforma o silêncio
Num jardim feminino.
Para exclusivo prazer
Da minha imaginação.
***
A poesia é uma voz insistente,
Partida ao meio.
De um lado está o tempo,
Do outro, a alma.
***
Sentado nesta esplanada
Sinto-me um marinheiro sem mar,
Procurando um novo mundo
Do outro lado da avenida.
***
Esperando que a sombra me ilumine,
Recordo histórias inverosímeis.
E penso: nas asas de uma borboleta
Está toda a poesia que precisamos.
***
Eis como vejo este momento:
Como um jardim
Que posso segurar numa mão.
A minha solidão é apenas
Uma parte da minha vasta obra.
E todos os meus poemas me perturbam
Mais do que saberia dizer.
***
Atrás do vidro, num café,
Escuto o silêncio das flores
Que a todo o momento
Espero ver incendiarem o meu caderno.
***
Ei-lo, o lago.
Um olho no rosto fulgurante
Da cidade.
Tudo nele é conforme ao meu desejo,
Menos o excesso de ruído.
De bom grado calaria
Estas aves, o rumor animal do vento
E esta voz interior que insiste:
«Num poema,
O que morre primeiro
São as palavras».
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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