«Penso, logo existo». Quem não conhece esta máxima de Descartes? Quanto a mim, li, evidentemente, há muitos anos, O Discurso do Método e também as Meditações Metafísicas, mas não retive grande coisa, para dizer a verdade. Sobre a sua vida sabia muito pouco, mas achava simpático que o homem gostasse tanto de dormir (dizia-se que dormia 10 horas por dia) e que preferisse sonhar a escrever. Publicou muito poucos livros se formos a ver e chegou a afirmar: «temo mais a fama do que a desejo».
Descartes deixou, com efeito, mais cartas do que livros e mais livros por terminar do que obras completas. Um dos seus biógrafos vai mesmo ao ponto de afirmar que ele sempre odiou a ideia de ter que publicar apara ser reconhecido como o grande pensador que efectivamente era.
Muito recentemente, quase sem querer, li um livrinho delicioso sobre o filósofo francês. Intitulado Descartes et le Cannabis, foi escrito por um tal Frédéric Pagés e está publicado na colecção «Mille et une nuits», uma colecção deliciosa de livrinhos minúsculos que se lêem em menos de meia-hora.
Em meia-dúzia de páginas, o autor conta a história de Descartes que viveu a maior parte da sua vida de adulto na Holanda e não em França como seria de esperar. Sem nunca o afirmar cabalmente, Pagès dá a entender que uma das razões para este facto curioso, que nunca ninguém conseguiu explicar convenientemente, pode ter sido o gosto de Descartes pelo tabaco, ou mais exactamente pelo haxixe, mas também pela liberdade. Já no tempo dele, a Holanda era um país muito mais tolerante e aberto que do que a França.
A tese é curiosa e se não é verdadeira, muitos dos argumentos avançados por Pagés dão que pensar. Uma coisa é certa: diverti-me a valer com este livrinho que me custou a módica quantia de dois euritos.
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