terça-feira, 31 de maio de 2011
Museu do comunismo
Nunca pensei visitar um «museu do comunismo». Um dia, porém, estava em Praga numa esplanada a descansar os pés e vi um cartaz que me chamou a atenção. Mostrava um ursinho sorridente empunhando uma kalashnikov e ostentando os seguintes dizeres: Museum of Communism, above Mc Donald’s.
Acho que nunca vi museu mais divertido. Mais parece, de resto, uma colecção particular, reunida por alguém com muito sentido de humor. E é mesmo. O museu fica num primeiro andar, naquilo que em tempos deve ter sido um banal apartamento, e foi criado, em 2001, por um americano, Glenn Spieker, que viveu em Praga dez anos. A vastíssima panóplia de objectos que adquiriu, nesses anos, relatam, de alguma maneira, a história do comunismo checoslovaco ente 1921 e 1989.
Ao som de discursos da época, percorremos várias salas recheadas de objectos, fotos e «instalações» que abordam os mais vários aspectos do quotidiano, não apenas das cidades mas também do campo. Tudo acaba por estar representado: a escola, as fábricas, a agricultura, o comércio, a publicidade, a propaganda, etc.
As fotos que fiz, sem dúvida que se revelarão mais eloquentes do que tudo aquilo que eu possa dizer mais.
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O velho cemitério judeu
O velho cemitério judeu de Praga é o mais antigo da Europa. Foi fundado no princípio do século XV e fechou as suas portas em 1787, por ordem de José II que não queria que sepultassem mais pessoas em pleno centro da cidade. Hoje, está aberto ao público e um caminho pedonal permite percorrer o bosque onde se empilham mais de 12 mil lápides funerárias. A desordem espanta o visitante, mas tem razão de ser. Como a religião não permite que se toquem nas sepulturas, não houve outro remédio, durante décadas e décadas, senão sobrepor os cadáveres. Apesar da multidão de turistas, o local consegue transmitir uma atmosfera de calma e nostalgia, a que fui bastante sensível.
Já agora, uma curiosidade. Segundo o livro Le Golem de Prague (narrativas judias do gueto), cemitério em hebreu diz-se Beth Chajim, o que significa Casa de Vida.
Kafka
Segundo Le Guide du Routard, Kafka, para além de depressivo, sofria de fobia social e era hipocondríaco. Tinha muito frequentemente dores de cabeça, insónia, prisão de ventre e furúnculos. Desconfiava da medicinal tradicional e tentava combater os seus males com curas naturais. De resto, era vegetariano. Quando ia de férias, escolhia termas e sanatórios, até porque eram locais onde encontrava alguma calma para escrever. Infelizmente, nada disso o impediu de contrair tuberculose, numa altura em que isso correspondia, quase invariavelmente, a uma sentença de morte.
Na ponta final da sua vida, quando se encontrava em Kierling, Kafka já só conseguia comunicar através de bilhetinhos. Num deles, escreveu um dia: «Matem-me. Se não o fizerem é porque são assassinos». Acabou por falecer no dia 3 de Junho de 1924, assistido pela namorada, Dora Diamant, e um amigo, Robert Klopstock. Foi enterrado em Praga a 11 de Junho, no novo cemitério judeu (na foto). Quanto às suas três irmãs, morreram em campos de concentração nazi, alguns anos mais tarde.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Kafka
Kafka está presente por todo o lado, em Praga. Não há loja de recordações que não tenha uma vasta panóplia de objectos evocativos (desde t-shirts a canecas, passando por postais, livros, bonés e sei lá que mais). Se ele adivinhasse, coitado...
No dia 4 de Dezembro de 2003 foi inaugurada mais uma estátua do escritor, da autoria do escultor Jaroslav Róna, que está situada à entrada do bairro judeu, entre a Igreja do Santo Salvador e a Sinagoga Espanhola. A obra tem mais de três metros de altura, pesa 700 quilos e é, pelo menos, tão fotografada como a estátua do Fernando Pessoa que está à porta da Brasileira no Chiado.
Museu Kafka
Confesso que estava com receio de visitar o Museu que dedicaram a Kafka. Temia o pior. Afinal, revelou-se uma boa surpresa. A primeira parte do Museu propõe muitos documentos, incluindo fotos, manuscritos, jornais da época e cartas. A parte mais espantosa, porém, são as salas temáticas, com encenações de som e luz sobre as suas obras mais famosas: O Processo, O Castelo, América e Na Colónia Penal, nomeadamente. Infelizmente, é proibido tirar fotografias dentro do local. Mesmo assim, consegui sacar estas imagens.
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quinta-feira, 26 de maio de 2011
Da paternidade
Um filho tardio é melhor do que um filho prematuro. Ser pai aos 20 anos é um erro, na maior parte das vezes. Em contrapartida, ser pai aos 60 devia ser obrigatório. Nem mesmo o euromilhões me podia ter feito mais feliz.
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Lucas
Ratner's Star
Em Ratner’s Star, o mais louco (ou deveria dizer lunático?) dos romances de Don DeLillo, encontrei várias ideias que também me passam pela cabeça. Como esta de que há escritores que não gostam de ser lidos. Que escrevem exclusivamente para si próprios, pois a tua relação com a escrita muda se pensas nos leitores. Ou num qualquer leitor. Como poderia alguém entender o teu eu profundo se tu próprio estás à procura dele, tacteando no escuro, enfiado no teu buraco?
É outra teoria de DeLillo: só num buraco, longe de todos os olhares e tentações, te podes descobrir verdadeiramente. Como a toupeira de Kafka, somos todos animais assustados, a tentar sobreviver e perceber o que nos aconteceu. Escondemo-nos para nos ver melhor e porque sabemos que o perigo é grande.
Como DeLillo, sei que a inteligência não traz necessariamente clarividência, nem certezas de nenhuma espécie. Aliás, quanto mais sabemos menos certezas temos. A ignorância cresce na exacta medida do conhecimento. Já Sócrates o declarava (o grego, não o imbecil que nos governa): quanto mais avanças na senda do conhecimento, mais consciência tens do que desconheces.
Outra pista aberta pelo livro de DeLillo: a verdade humana não interessa porque não é a verdade. Verdade é coisa de políticos, patrões, polícias, padres, cientistas e de quem acredita neles. O homem livre não acredita na verdade. Infelizmente, não há homens livres, pois acontece com a liberdade o mesmo que acontece com o conhecimento...
É outra teoria de DeLillo: só num buraco, longe de todos os olhares e tentações, te podes descobrir verdadeiramente. Como a toupeira de Kafka, somos todos animais assustados, a tentar sobreviver e perceber o que nos aconteceu. Escondemo-nos para nos ver melhor e porque sabemos que o perigo é grande.
Como DeLillo, sei que a inteligência não traz necessariamente clarividência, nem certezas de nenhuma espécie. Aliás, quanto mais sabemos menos certezas temos. A ignorância cresce na exacta medida do conhecimento. Já Sócrates o declarava (o grego, não o imbecil que nos governa): quanto mais avanças na senda do conhecimento, mais consciência tens do que desconheces.
Outra pista aberta pelo livro de DeLillo: a verdade humana não interessa porque não é a verdade. Verdade é coisa de políticos, patrões, polícias, padres, cientistas e de quem acredita neles. O homem livre não acredita na verdade. Infelizmente, não há homens livres, pois acontece com a liberdade o mesmo que acontece com o conhecimento...
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quarta-feira, 25 de maio de 2011
Peter Sloterdjik
Peter Sloterdjik no El País: «La literatura alemana está muy viva. Durs Grünbein es un clásico vivo de la poesía y Enzensberger sigue conectando con el presente por mucho que habite desde hace tiempo en el Olimpo. Es cierto que no hay un escritor equivalente a Don DeLillo o a Philip Roth, pero Martin Walser está a la altura de Updike. El problema es otro, y lo sufren todas las literaturas del mundo: la marginalización. Internet es una revolución tan importante como la que produjo Gutenberg con la imprenta. Es cierto que los escritores siempre fueron una minoría, pero hasta ahora fueron una feliz minoría: seguían ocupando un lugar central. Habrá que ver si esa minoría de escritores, en un mundo que se rinde a Lady Gaga, seguirán siendo felices o empezaran a sentirse desdichados».
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Peter Sloterdjik
terça-feira, 24 de maio de 2011
Histórias de Praga
Em 1991, David Cerny e alguns amigos pintaram de cor-de-rosa um tanque oferecido pelos russos e instalaram-no sobre um pedestal na praça Kinských. Para o fazer, o bando forjou cartas de autorização, criando um enorme escândalo. Mais tarde, o tanque voltou a ser pintado de verde pelo exército, depois novamente de cor-de-rosa com a contribuição de ministros do governo checoslovaco da altura. Actualmente, faz agora parte da colecção do Museu Militar e toda a gente sabe quem é David Cerny, um artista plástico que, devido ao seu gosto pela intervenção pública e pela subversão dos clichés, é frequentemente comparado a Banksy, o mais famoso «grafiteiro» do nosso tempo.
Uma das «intervenções» mais conhecidas de Cerny pode ser vista a grande distância. Estou a falar, naturalmente, dos bébés que pendurou na Torre de Televisão de Praga, um verdadeiro arranha-céus com 216 metros de altura, que constitui um ponto de referência ideal para todos os forasteiros. São doze bébés negros feitos de fibra óptica que pesam uns bons 800 quilos cada. De muito longe parecem formigas e para ver bem o seu rosto (que mais parecem grelhas de ventilador enfiadas numa luva de boxe) é preciso ir à ilha de Kampa, onde se encontram três outras esculturas idênticas, embora feitas de bronze.
Outra das suas obras controversas é a estátua equestre de Santo Venceslau que o representa num cavalo morto e virado do avesso. Não é fácil dar com ela uma vez que está no interior de uma galeria comercial (em pleno centro da cidade, é certo).
A obra mais fotografada de Cherny é, contudo, a dos dois homens que, no átrio do Museu Kafka, mijam sem fim, virados um para o outro, para gáudio dos visitantes de todas as idades. As esculturas são feitas de discos de bronze e integram um mecanismo que lhes permite rodarem enquanto urinam, acrescentando comicidade ao espectáculo.
Uma das «intervenções» mais conhecidas de Cerny pode ser vista a grande distância. Estou a falar, naturalmente, dos bébés que pendurou na Torre de Televisão de Praga, um verdadeiro arranha-céus com 216 metros de altura, que constitui um ponto de referência ideal para todos os forasteiros. São doze bébés negros feitos de fibra óptica que pesam uns bons 800 quilos cada. De muito longe parecem formigas e para ver bem o seu rosto (que mais parecem grelhas de ventilador enfiadas numa luva de boxe) é preciso ir à ilha de Kampa, onde se encontram três outras esculturas idênticas, embora feitas de bronze.
Outra das suas obras controversas é a estátua equestre de Santo Venceslau que o representa num cavalo morto e virado do avesso. Não é fácil dar com ela uma vez que está no interior de uma galeria comercial (em pleno centro da cidade, é certo).
A obra mais fotografada de Cherny é, contudo, a dos dois homens que, no átrio do Museu Kafka, mijam sem fim, virados um para o outro, para gáudio dos visitantes de todas as idades. As esculturas são feitas de discos de bronze e integram um mecanismo que lhes permite rodarem enquanto urinam, acrescentando comicidade ao espectáculo.
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Praga
Picasso
Segundo Simone Weil, «de uma maneira geral, o melhor método para exercitar a inteligência consiste em olhar». Apetece acrescentar que há diversos tipos de inteligência, mas que a que mais prezo é a «inteligência do coração». Já agora, outro pensamento: onde podemos ir mais longe do que aquilo que somos? Na arte, e só aí.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
domingo, 15 de maio de 2011
Torres Novas
«I'm not just this but more. There is something else to me that I don't know how to reach. Just outside my reach there is something else that belong to the rest of me. I don't know what to call it or how to reach it. But it's there. I am more than you know.» Don DeLillo, Ratner's Star
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sexta-feira, 13 de maio de 2011
Metronomy
Depois de Kaputt, dos canadianos Destroyer, outro grande álbum pop chega, este ano, aos meus ouvidos: The English Riviera dos britânicos Metronomy. Para o seu terceiro disco de estúdio, Joseph Mount inspirou-se no «soft-rock» dos anos 70. É tão refrescante que apetece ouvir vezes sem conta.
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Da liberdade
Segundo Espinoza, «Supomo-nos livres porque ignoramos as forças obscuras que nos comandam».
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