sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Apontamentos para uma história futura


Era uma vez um país onde a linguagem e os espelhos nunca chegaram a ser inventados, porque ninguém sentia necessidade de tal coisa.
Nesse país, as chamadas belas artes cabiam às mulheres e a música aos homens.
E era assim que comunicavam: elas através de desenhos e pinturas, eles cantando ou tocando algum instrumento.

Como não havia espelhos, as mulheres desenhavam-se umas às outras, mas só dentro do círculo familiar. Por isso, ninguém era feio.

Os homens não estavam muito interessados em conhecer o seu aspecto, interessava-lhes sobretudo saber como soavam, pois os melhores músicos eram os melhores partidos.

Já as mulheres mais cobiçadas pelos homens eram, geralmente, as que desenhavam pior, vá-se lá saber porquê.

Embora pudessem desenhar, os homens raramente se atreviam a fazê-lo. Quanto às mulheres, só relutantemente cantavam. Contudo, para chamar alguém tinham que o fazer, porque o nome das pessoas era uma melodia.

As mulheres encarregavam-se da arquitectura e da decoração, e os homens da filosofia e das leis, que eram muito poucas e aplicadas apenas com trocas de olhar ou caretas de reprovação.

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