Ontem morreu, aos 68 anos, vítima de um tumor cerebral, o Manuel Cintra Ferreira. Quando li a notícia, numa nota de rodapé durante o telejornal, fiquei em estado de choque. Sabia que estava doente, mas a última vez que o vi parecia estar a recuperar bem. Durante 20 anos fui seu colega no Expresso e deixem-me que vos diga que foi das pessoas mais decentes que conheci naquele jornal. Nunca o ouvi dizer mal de ninguém e, na verdade, também nunca ouvi ninguém dizer mal dele, o que no meio dos jornais é absolutamente extraordinário.
Para além de crítico de cinema do Expresso e colaborador da SIC, o Manuel era o mais antigo programador da Cinemateca Portuguesa. A sua memória cinéfila era prodigiosa e proverbial. Toda a gente no Expresso o considerava era uma autêntica enciclopédia da história do cinema. Sabia tudo, tinha visto tudo, era um apaixonado que gastava todo o dinheiro que ganhava em livros, revistas e DVD. Vivia do e para o cinema.
Nas suas frequentes idas a Paris, nunca se esquecia de me trazer uma revista de música sem distribuição em Portugal. Recentemente, o Manuel doou à Cinemateca duas cópias, novinhas em folha, de dois inesquecíveis clássicos de que ele gostava particularmente: O Ladrão de Bagdade (1940), de Michael Powell, Ludwig Berger e Tim Whelan e A Desaparecida (1956), de John Ford. Pagou-as do seu bolso, num último gesto que diz bem o homem generoso que era.
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