Não vou contar a história, mas vale a pena lembrar que O Mestre de Petersburgo, de J.M. Coetzee é, como resumiu Susan Sontag, uma fantasia sobre Dostoievski. Acabo de ler o romance e não tenho a menor dúvida: é dos melhores livros que já li.
A história põe em cena um homem a fazer o luto por um filho que morreu, não se sabe se às suas próprias mãos ou assassinado. Dostoeivski é esse homem e, como qualquer pai, quer saber porque é que o filho se afastou tanto dele. Quer saber onde falhou, porque a verdade é só uma: todos falhamos como pais.
Mais, ou menos, a questão não está aí. A questão, ou melhor, a sua resposta talvez esteja no passado (porque todo o pai também foi filho).
Que a resposta não esteja em lado algum, ou mesmo à frente do nosso nariz, tanto faz, porque esta miséria de ser humano, demasiado humano, não tem explicação. A única coisa que podemos verificar, é a derrota, ou a morte, se preferirem, que se explica a si própria, eternamente. Mesmo se ninguém quer saber, a verdade está aí. A única verdade do mundo: que tudo acaba na morte, que a derrota é inevitável pois é a resolução da vida. Para pais e filhos, homens e mulheres, romancistas e terroristas.
Claro que o romance, tem outros temas. A sexualidade, por exemplo, e o peso (ou a gravidade) da velhice. Há ainda a questão política, a eterna questão da culpa e da incapacidade de comunicarmos a um nível profundo, até, ou sobretudo, com quem amamos. Contudo, para mim, O Mestre de Petersburgo é, antes de mais nada, a história (en abîme) de um escritor habitado pela(s) sua(s) própria(s) sombra(s). É, à sua maneira, um outro livro do desassossego, assombrado por muitos fantasmas, mas especialmente pelos de Dostoievski e Kafka, ou seja, pela própria essência da literatura, que é, de alguma maneira, a vida ao quadrado.
terça-feira, 12 de abril de 2011
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