segunda-feira, 21 de março de 2011

Muros de Abrigo




No Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, uma exposição retrospectiva de Ana Rocha, intitulada «Muros de Abrigo» evidencia uma clara obsessão por janelas, corredores e espelhos, assim como por mesas e cadeiras.
Em algumas obras parece sugerir que uma casa é, de alguma forma, composta por micro-paisagens e que o que se passa dentro de uma habitação é o espelho do que se passa fora dela. Se pensarmos bem, uma casa, ou uma propriedade, não é menos misteriosa do que uma floresta ou uma viagem de comboio, por exemplo. Até porque seja onde for que estivermos o que vemos condiciona o que sentimos e pensamos.
O que a exposição de Ana Rocha nos vem lembrar é que ser artista consiste, essencialmente, em reflectir o mundo, reflectindo sobre ele.
Do mesmo modo, através dos outros vemo-nos a nós próprios, pois no nosso rosto espreitam outros. Quando me vejo ao espelho, não vislumbro apenas os meus pais e avós, mas também os meus irmãos e os meus filhos. O que me leva a acrescentar: talvez o nosso rosto seja, de uma maneira misteriosa, uma «habitação» onde «residem» mais pessoas do que pensamos.
Tudo na obra de Ana Rocha remete para a memória, não somente de momentos passados, mas também de momentos futuros, pois como qualquer artista, ela deseja ardentemente que as suas «visões» se multipliquem em quem as vê. Mais do que sentimentos, estão aqui em jogo, pelo menos aos meus olhos, construções mentais. Não é à beleza que estas obras aspiram, mas à reflexão e disseminação.

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