Enquanto não chega cá o novo disco de Françoise Hardy, La Pluie Sans Parapluie (editado há dias em Paris), escuto Clair Obscur, um disco já com dez anos. O álbum abre com uma canção dos anos 30, «Puisque vous partez en voyage», de Mireille e Jean Nohan, aqui cantada em duo com Jacques Dutronc (com quem ela vive há muitos anos). Esta belíssima canção inaugural anuncia, com muita ironia, que vamos ouvir um disco outonal, onde se fala do envelhecimento com humor e ternura. Logo na canção seguinte, uma adaptação de um tema jazz co-assinado por Django Reinhardt e Stéphane Grapelli, Françoise Hardy evoca a inocência e a beleza perdidas. «A festa acabou», canta ela.
Também foi ela quem escreveu «Clair Obscur», o tema que dá o título ao álbum, com música de Khalil Chahine. Um belo poema que diz: «aqui estou eu, nem demasiado perto nem demasiado longe, passageira clandestina de um sonho incerto...» Fala de alguém que se fechou a sete chaves com medo de sofrer, com medo de amar.
O amor e a solidão sempre foram os temas preferidos de Françoise Hardy e este disco não escapa à regra. Clair Obscur é mesmo, possivelmente, o mais pessoal e intímo de todos os discos que alguma vez lançou. Não só fez questão de escolher pessoalmente todas as músicas do disco, mas também todos os músicos que nele participam (e a lista inclui figuras ilustres como Iggy Pop e Etienne Daho, a par de outras muito menos conhecidas, mas não menos talentosas). E foi ela quem escreveu a maior parte das letras (o que é raro acontecer), como «Tu ressembles à tous ceux qui ont du chagrin» e «La saison des pluies», duas das mais bonitas canções que alguma vez ouvi.
Já tinha saudades de ouvir um disco assim, tão triste que me aquece o coração, neste inverno interminável.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
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