Os meus pais levaram-me ao aeroporto de Elizabethville, na altura ainda Congo Belga.
Nesse dia, o meu irmão mais novo e eu, viemos para Portugal com os nossos avós maternos.
Algumas semanas depois, largaram-nos (é o termo) num colégio na Parede, dizendo-nos que íamos lá ficar a dormir «umas noites».
Quando os meus avós se foram embora, fugi do colégio a sete pés.
Corri, corri e, sem saber como, fui parar à praia.
Não sabia onde estava, nem que fazer da minha raiva e do meu desespero.
Quando me cansei de chorar, já era noite. Tinha fome e frio e não havia ninguém por perto.
Tinha sete anos e foi nesse momento que comecei a tornar-me um homem. Por outras palavras: regressei ao colégio, para uma vida de miséria que durou oito anos.
É isso que me define: sou alguém que sobreviveu a oito anos de colégio interno.
Ainda hoje não consigo recordar esses tempos com serenidade. Ainda hoje não sei se estou preparado para escrever sobre isso mas, esta manhã, acordei com a cabeça cheia de nomes da minha infância: Mirita, Maria da Luz, Dona Guilhermina, Marieta, Fausto, Baldrico, Simas…
Quantas histórias! Quantas lágrimas!
Um dia vou ter que escrever sobre isto. Um dia…
segunda-feira, 12 de abril de 2010
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1 comentário:
e no dia em que escreveres sobre tudo isso as coisas nunca mais vão ser as mesmas, exceptuando o nosso amor por ti.
fizeste falta no concerto de mount eerie, tal como fazes falta a cada novo dia.
<3
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