segunda-feira, 19 de abril de 2010

Françoise Hardy















Acabo de ouvir La Pluie Sans Parapluie, o novo disco de Françoise Hardy, e ainda estou sob o seu «charme». A voz não envelhece, mas o seu gosto apura-se: as letras são cada vez mais subtis e profundamente poéticas. Quanto aos arranjos continuam de uma simplicidade desarmante, com ornamentações discretas e efeitos mínimos; existem apenas para sublinhar a musicalidade das palavras e dos sentimentos, porque não há nada mais musical do que a felicidade, que é também a mais pura das melodias. Ouvindo Françoise cantar, impossível não pensar: «cantar devia ser a única maneira de nos expressarmos; a única maneira de vivermos».
La Pluie Sans Parapluie é, ao que parece (não me dei ao trabalho de os contar) o 26º álbum da carreira de Françoise Hardy. Nada mau, para uma senhora que gosta de viver afastada do burburinho da fama e da espuma mediática! Na sua singeleza, o título do disco parece evocar o ditado popular «quem anda à chuva molha-se»; uma verdade universal que aqui soa como um convite. Ou seja, banhei-me nesta voz, encharquei-me destas palavras e agora proclamo: «je ne vous aime pas», pois o amor é, por excelência, o território do bluf.
Há várias canções no disco a que me apetece regressar rapidamente, mas nenhuma tão sublime como a que dá o título ao disco. Está tão bem cantada que apetece ouvi-la para sempre. Por isso digo: nunca Françoise cantou tão divinamente. Ou então fui eu que envelheci bem: ouvindo-a parece-me que o tempo não passou, que estamos ambos, ela e eu, cada vez mais intemporais.

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