terça-feira, 28 de julho de 2009

Das pessoas







Seja aqui em Lisboa, em Toronto, em Tóquio, Pequim ou Tavira, as pessoas fascinam-me. Todas sem excepção excitam a minha curiosidade, mas quanto mais estranhas são, mais eu gostaria de as interpelar para conhecer sua história. Desde há algum tempo, habituei-me a fotografar algumas das pessoas que se atravessam no meu caminho, como se assim pudesse trazê-las para casa a fim de as interrogar. Olhando para as suas fotos, pergunto a mim mesmo: que se esconde por detrás deste rosto? Como foi a sua infância? Alguém lhe quer bem? Alguém lhe quer mal? Porquê? Como vai morrer? Que pensaria de mim se soubesse o que me vai na cabeça? Por vezes, invento histórias a partir de gente que fotografo à socapa. Imagino-lhes um passado, um presente e até um futuro. Será isto condenável? Em todo o caso, faço-o desde que sou criança. E houve mesmo um tempo em que cheguei a pensar que Deus tinha criado as pessoas apenas para meu entretenimento. Vivo mergulhado em ficções e sonhos. A realidade interessa-me cada vez menos. Mas claro, a sua vingança será terrível.

3 comentários:

Anónimo disse...

"E houve mesmo um tempo em que cheguei a pensar que Deus tinha criado as pessoas apenas para meu entretenimento."

E não foi? Podes é não saber brincar.

"Vivo mergulhado em ficções e sonhos."

Deus também. Por isso é que se prova que te fez à imagem d'Ele.

"A realidade interessa-me cada vez menos."

A Deus também não, pelo que se disse antes.

"Mas claro, a sua vingança será terrível."

Depende do que tu ou Deus considerem como tal.

joana lee disse...

o que separa a ficção da realidade não é mais do que um espelho.
<3

odeusdamaquina disse...

Interessante a ideia de que a realidade pouco interessa. Penso de igual maneira. julgo que a ficção hoje pode ser mais interessante que a realidade. Pelo menos, mais criativa é. Basta ver cinema, teatro, um bom livro e que belas realidades são criadas!
A propósito, cito um artigo do JL, de António Carlos Cortez, sobre Michael Jackson e o mundo actual, referindo-se a ele como o Peter Pan, aquele que nunca deixou de ser criança na idade adulta, porque na altura devida não o deixaram ser criança nem brincar com as pessoas, nem que fosse para, como dizes, entreter-se com elas. O artigo diz assim: "Michael Jackson, a criança que nunca o foi, encarna, para o melhor e para o pior, algo que é verdadeiramente assustador: hoje as crianças, os adolescentes, vivendo numa sociedade televisiva, perderam de vez, a noção da realidade. É a ficção que é real." Ler a propósito, o livro de Paul Watzlwick, "A realidade é real?". Diz o autor "não existe uma realidade absoluta, mas apenas concepções subjectivas e muitas vezes contraditórias da realidade. De facto, a realidade contém diversas realidades.
Achei muito interessante o artigo, falando dos nossos jovens vivendo uma realidade virtual (nos telemóveis, nos chats, na internet, nas consolas) que os aliena da realidade.
São questões para a nossa reflexão.
Obrigado pelo último comentário. Não estive de férias, antes em Évora, num trabalho para uma curta-metragem com a temática da violência sobre as mulheres. Muito interessante, porque a equipa com quem trabalhei era Francesa. Aprendi muito com elas (equipa quase toda feminina). Adorei a experência, adorei estas loucas Francesas! Um abraço!

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