terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Da série 'Passeios de Inverno'





Superstições



1

O homem foge da liberdade. Sem ter plenamente consciência disso, aprisiona-se a si mesmo indefinidamente.

O silêncio interior é um palco, mas para um único espectador.

Atenção: uma prisão pode ser um lugar de libertação. Quando a luz transborda, o inimaginável liberta-se.

A chave que abre as nossas cadeias está no fundo do lodo. É preciso mergulhar, uma e outra vez, até perder o fôlego, para ter alguma hipótese de a encontrar.

II

No muro da prisão, num buraco minúsculo, nasceu uma flor.

Certas ideias podem levar-nos muito longe. Sobretudo se optarmos pela obscuridade e a reclusão.

Não basta sofrer para escrever, é também preciso saber rir. Aprender a rir do nosso medo é, ou deveria saber, a nossa maior ambição.

III

Não há nada mais simples do que a ideia de beleza. Nem nada mais triste do que não encontrar beleza dentro de nós (os deuses são cruelmente semíticos, no que respeita à beleza dos seres humanos).

Como uma árvore refém dos seus pássaros, debato-me com os meus mortos. A vida é um exílio e a velhice um novo castigo.

IV

A velhice? Uma emboscada prevista. Uma esmola feita de agonia. Uma vingança cerzida numa acumulação de feridas.

A morte? Vai apanhar uma criança destruída, que não teve verdadeiramente tempo para crescer.

V

Viaja no vento um desejo de viagem maior que a vida.

No limiar de mais uma noite, uma árvore acolheu o meu olhar, com um estremecimento que me comoveu.

VI

Primeiro, a frase surpreendeu-me. A meio de um sonho, acordou-me. Atónito, decidi transformá-la num aforismo: "A morte não passa de uma superstição".

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Árvores



A poesia está, sobretudo, nos detalhes.

Campo de Ourique


 Ruas que se percorrem como versos. Pessoas que se cruzam num poema que se inventa, passo a passo.

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