segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Troubadour


Comprei, finalmente, o novo disco da Lula Pena, Troubadour. Há anos que estava à espera dele. Na verdade, desde que ouvi Phados, já lá vai uma década. Esta obra de estreia tinha-me encantado. Finalmente alguém abordava o fado sem complexos de nenhum tipo, com a naturalidade de quem não corre atrás da fama ou do dinheiro, mas apenas de uma exigência interior.
Anti-vedeta por natureza, Lula Pena sabe que a única tarefa verdadeiramente urgente é amar, e fazer-se amar. A música para ela não é uma profissão, antes uma respiração ontológica, um veneno criativo que se alimenta de melodias e palavras. Digam o que disserem, considero-a a mais lírica e livre das portuguesas, a mais improvável e legítima herdeira de Amália Rodrigues (com quem, de resto, se parece fisicamente). Não da Amália diva, nem da Amália depressiva, mas da Amália habitada pela coragem e melancolia do povo que criou a palavra saudade.
As canções de Troubadour não têm título e prolongam-se livremente por sete actos (como no teatro), pois o disco é uma espécie de narrativa confessional, encantada e encantadora. Gravado em solo absoluto, é também um álbum visceral e intimista. Umbilical.
Sim, adoro a sua guitarra lânguida e a sua voz nocturna e hermafrodita, que ouço como me ouço pensar. Obrigado Lula Pena, valeu a pena esperar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que texto maravilhoso Jorge! (marta)

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