sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Leonard Cohen


Não há muitas vantagens em envelhecer, mas uma delas é seguramente estarmo-nos nas tintas para o que os outros pensam de nós. Quando se chega a uma certa idade, a única opinião que verdadeiramente conta, no que a nós diz respeito, é a nossa. No caso de Leonard Cohen, isso só pode ser ainda mais verdade. Não só porque o homem é um filósofo, para não dizer um sábio, mas também porque se alguém já não tem mais nada a provar, nem ao mundo, nem a si próprio, é ele. Por isso, dão-me vontade de rir as más-línguas que afirmam que ele só voltou a gravar e a fazer digressões porque uma advogada, ou uma contabilista, o que vai dar ao mesmo, o enganou e que, em consequência disso, ele (que vivia retirado num convento budista) ficou sem um tostão. Quem tal afirma não percebe nada da alma humana e tem uma ideia errada sobre Leonard Cohen. Basta vê-lo a falar aos jornalistas, ou ouvi-lo num concerto: ele adora o que faz. De resto, mesmo em silêncio, na escuridão da cela mais ascética do mundo, o velho judeu canta, porque a música emana do seu corpo a cada instante e tudo nele é melodia e harmonia. Nesse caso, de que serve dizer que este disco é melhor do que aquele, ou que tal canção é mais conseguida que outra? Cohen só há um, aproveitemos enquanto ele ainda anda aí e edita novos discos. Sobretudo nestes tempos sombrios, pois ao menos o seu pessimismo, ao contrário de outros, é luminoso e esclarecido.
Resta-me acrescentar, a propósito do título do seu novo disco: as supostas novas ideias que ouço para aí constantemente, parecem-me todas tão antigas como o mundo. O que se passa é que as pessoas não perderam apenas a esperança e a coragem, perderam também a memória e, pior do que tudo, a imaginação. Felizmente ainda há gente como Leonard Cohen, para nos lembrar que nem toda a gente é surda e que ainda há coisas que vale a pena ouvir.

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