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Encontro num blogue (
Arquivo de Cabeceira), esta tradução, que reproduzo com a devida vénia à autora, de umas declarações de Jean Cocteau (
Le Secret Professionnel, 1922):
«Eis o papel da poesia. Ela desvela, no sentido pleno do termo. Ela mostra nuas, sob uma luz que afasta o torpor, as coisas surpreendentes que nos rodeiam e que os nossos sentidos registavam maquinalmente. É inútil ir muito longe à procura de objectos e sentimentos bizarros para surpreender o sonhador acordado. É esse o sistema do mau poeta e o que nos acontece com o exotismo. Trata-se, sim, de lhe mostrar aquilo sobre o qual o seu coração e os seus olhos deslizam todos os dias, mas sob um ângulo e a uma tal velocidade que lhe pareça vê-lo e comover-se com isso pela primeira vez. Eis a única criação permitida à criatura. Pois, se é verdade que a multiplicidade de olhares deixa sobre as estátuas uma pátina, os lugares comuns, obras-primas eternas, estão cobertos por uma espessa camada que os torna invisíveis e que esconde a sua beleza. Se pegarem num lugar-comum, o limparem, o esfregarem, o iluminarem de maneira a que ele recupere a força da juventude e da frescura que tinha na origem, farão o ofício de poeta.» Reparem como tudo o que é dito é absolutamente válido se substituirmos as palavras poesia e poeta por fotografia e fotógrafo.
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