quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Do envelhecimento

Peter Solterdijk diz: «É preciso envelhecer para perceber verdadeiramente o que se passa no mundo». Eu digo: «À medida que envelhecemos, vamos paulatinamente saindo do mundo. Ninguém me tinha dito que seria assim. É um processo lento que se vai acentuando com os anos. Um dia, dás por ti a libertar-te das coisas, de certas ideias, de certas pessoas e, sobretudo, do que os outros pensam de ti. Ao mesmo tempo, o absurdo desta sociedade torna-se cada vez mais gritante e (esta é a maior surpresa) começas a ter pena dos jovens, por não verem o que tu vês, por não perceberem o que os espera. É deveras irónico: os jovens têm pena dos velhos (quando não os desprezam, pura e simplesmente) e os velhos pagam-lhes na mesma moeda.»

1 comentário:

Odracir disse...

Gosto muito do auto-retrato.
Saindo do mundo?... não sei, é possível, se certa maneira também o sinto... mas parece-me que vou entrando noutra coisa, numa coisa maior do que o mundo. Quanto aos jovens estão condenados a fazer o caminho às cegas, e não o sabem, como nós nunca o soubemos. A lucidez, sempre o nosso exercício favorito, nada pôde contra o desconhecido.Vais-te rir, lembro-me de ter dito, quando era puto: "a lucidez é urinar às escuras e ter a angústia de estar a inundar o quarto". Acho que tinha razão. Um abraço.

Arquivo do blogue