quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Confissões e anatemas

Cioran, uma vez mais, numa tradução muito livre (como deviam ser todas)
"Há assuntos que filósofos deviam evitar. Desarticular um poema como se desarticula um sistema é um crime, para não dizer um sacrilégio."
(…)
"Tratando-se de pêsames, tudo o que não é lugar-comum raia a inconveniência ou a aberração."
(…)
"Há um pouco de charlatão em todo aquele que tem sucesso, seja em que área for."
(…)
"O seu destino foi realizar-se pela metade. Tudo estava truncado nele: tanto na sua maneira de ser como de pensar. Um homem de fragmentos, fragmento ele próprio."
(…)
"É imensa a distância entre um destino e uma profissão."
(…)
"Uma palavra dissecada já não significa nada. Não é nada. Como um corpo que, depois de autopsiado é menos do que um cadáver."
(…)
"A idade simplifica tudo. Na biblioteca peço quatro livros: dois têm a letra demasiado pequena, abandono-os sem sequer os examinar; o terceiro, demasiado… sério, parece-me ilegível. Trago o quarto, sem grande convicção."
(…)
"O homem encontra-se algures entre o ser e o não-ser. Entre duas ficções."
(…)
"Passar do desprezo ao desprendimento parece fácil. No entanto, mais do que uma transição é uma façanha, um triunfo. O desprezo é a primeira vitória sobre o mundo; o desapego a última, a suprema. O intervalo que as separa é similar ao caminho que vai da liberdade à libertação."
(…)

"O homem vai desaparecer: era até agora a minha firme convicção. Entretanto mudei de opinião: o homem deve desaparecer."

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