sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Smile

A gata acordou e olha para mim, iluminada pelo seu próprio olhar. A noite, lá fora é um muro cá dentro e, à minha volta, o silêncio parece-me mais profundo do que nunca, como num sonho onde me arrisco a perder parte da alma. Na sala, a minha dor nas costas está por todo o lado, até na televisão. No fundo, esta dor quase insuportável, que invade a vida inteira, não passa de um pormenor da desordem geral. Entretanto, uma borboleta (ou uma traça?) apareceu de repente, a esvoaçar junto à janela, para logo desaparecer, como uma ameaça que, felizmente, não se concretizou. Ignoro o nome deste filme misterioso e estranho que estou a contar, mas estou dentro dele, enterrado no sofá e no frio, a meditar nesta frase de Swift, que li em tempos: «Toda a gente quer viver muitos anos, mas ninguém quer ser velho».


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