segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lhasa

Estou em estado de choque: acabo de saber que morreu uma das minhas cantoras preferidas. Lhasa (na foto) tinha 37 anos e lutava, há quase dois anos, contra um cancro da mama.
Segundo o comunicado do manager publicado no perfil do MySpace da cantora, ela faleceu «pouco antes da meia-noite» do ano novo.
Na primeira metade do ano passado, Lhasa publicara um novo disco cujo título era o seu própriuo nome. Na altura escrevi: «Cantado em inglês, este é, sem dúvida, o seu álbum mais íntimo e perturbador. Para lhe fazer justiça é preciso gostar de canções tristes e crepusculares (onírico e solitário, o álbum já foi descrito como uma viagem ao fim da noite)». Nessa altura ela já estava doente, mas eu não o sabia.
Lhasa de Sela nasceu em Big Indian, uma pequena localidade nas Montanhas Catskill, no estado de Nova Iorque e tinha sangue mexicano. Os pais sempre ouviram muita música, desde clássicos americanos e mexicanos até música árabe, cigana e japonesa, o que explica as múltiplas influências que se ouvem nos seus discos. Lhasa cantava, pelo menos desde os 13 anos, mas foi em Montréal no Canadá (onde veio a falecer), que a sua carreira musical verdadeiramente começou, ao lado do guitarrista (e cineasta Yves Desrosiers). Da colaboração entre ambos nasceu La Llorona, um belíssimo primeiro álbum editado em 1997 e que conheceu, nalguns meios, um êxito retumbante. Algum tempo depois, Lhasa veio para a Europa, onde reencontrou as suas três irmãs em Bourgogne, «performers» num circo. Juntas, criaram um espectáculo, que estreou no Verão de 1999 e que está, pelo menos em parte, na raiz de The Living Road, o seu segundo disco, parcialmente composto no Sul de França e que rompeu um silêncio discográfico de cinco anos. O álbum mistura folk mexicano, canções francesas e baladas hispânicas e é cantado em francês, inglês e castelhano. Por vezes, Lhasa cantava também em português e árabe, porque a sua música não conhecia fronteiras e procurava unir diversas tradições populares com experiências mais contemporâneas e experimentais. As suas letras falam-nos de personagens reais, mas também de sonhos, devaneios e utopias. Ouvi-las é ouvir o que há de mais profundo em nós.

PS - 2010 começou há quatro dias e já tive que escrever dois obituários sobre músicos de quem gostava e que morreram prematuramente. Não podia estar mais triste.

1 comentário:

odeusdamaquina disse...

Estou também muito triste! Desde La Llorona que conhecia o seu trabalho. Também recordo uma participação com os Tindersticks, de quem gosto muito. E sim, o álbum do ano transacto é fortíssimo. Não o sabíamos tão premonitório!
É triste os dias passarem e cada vez mais, a morte que passa por nós! Até um dia sermos apanhados por ela!

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