terça-feira, 1 de novembro de 2011

Claire Denis

A revista francesa Inrockuptibles está a comemorar 25 anos de existência. Por isso, perguntou a 25 individualidades como imaginam o mundo daqui a 25 anos. Eis excertos da resposta de Claire Denis, que publico sem comentar.

«Como muitas pessoas, neste momento temo o futuro. Porque envelheço? Tenho a sensação de que sobrevivemos em vez de viver. Fala-se muito na Grécia como o calcanhar de Aquiles da Europa, mas eu penso em Portugal, a ponta do sapato europeu. Os portugueses forem descobridores, viajantes, Portugal faz parte do meu sentimento do mundo. Este povo sofreu, ainda sofre, mas não está na sua maneira de ser, indignar-se e revoltar-se como os Gregos. Penso no filme de Manoel de Oliveira, Non, ou a Vã Glória de Mandar. Os portugueses resistem sem fazer barulho. Aquele título do Oliveira permanece presente todos os dias. A ideia de ganhar, de mandar, é vã. E dizer «não», por vezes é uma forma de coragem. «Não», quer dizer nada de fingimentos, de gloriazitas, nem esta ilusão de mandar, ou de dominar. Eis como me imagino no futuro. (…) Neste meu imaginário de Portugal, existe um ideal sem o qual os portugueses não teriam ido explorar o mundo a bordo de cascas de noz. Por isso, espero que o futuro seja um pouco português.»

*

Les Inrocks, qui sont en train de fêter leur 25 ème anniversaire, on demandé à plusieurs individualités comment ils imaginaient le monde dans 25 ans. Voici des extraits de la réponde de Claire Denis :

«Comme beaucoup de gens, j’ai en ce moment peur du futur. Parce que je vieillis ? J’ai le sentiment qu’on surnage plutôt qu’on ne vit. On parle beaucoup de la Grèce comme du talon d’Achille de l’Europe, et moi, je pense au Portugal, la pointe de la chaussure européenne. Les Portugais ont été des découvreurs, des voyageurs, le Portugal fait partie de mon sentiment du monde. Ce peuple a enduré, endure, mais ce n’est pas dans sa manière de s’indigner, de se révolter comme les Grecs. Je pense au film de Manoel de Oliveira, Non, ou la Vaine Gloire de Commander. Les Portugais résistent sourdement, sans fracas. Ce titre d’Oliveira est pour moi présent chaque jour. L’idée de gagner, de commander, est vaine. Et dire “non”, c’est parfois une forme de courage. “Non”, cela veut dire pas de faux-semblants, de gloriole, pas de cette illusion de commander, pas de ce mensonge de dominer. Voilà comment j’imagine demain. (…) «Dans cet imaginaire que j’ai du Portugal, il existe un idéal sans lequel les Portugais ne seraient pas partis explorer le monde sur une coquille de noix. Voilà, j’espère que l’avenir sera un peu portugais.»

1 comentário:

Anónimo disse...

Se o Jorge não se importar, gostava de partilhar a importância deste post.

Cheguei cá pelo amigo Mário.
Obrigado pela partilha de textos e belíssimas fotos.

Luís Peixoto

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