domingo, 14 de março de 2010

Napoleão e as galinhas

Um dos grandes divertimentos de Napoleão consitia, ao que parece, em disparar sobre animais que se atravessavam no seu caminho (galinhas, cabras, etc). Henry de Montherland, um escritor francês que se suicidou em 1972, punha a hipótese de isto ser mentira. Dizia ele que era uma calúnia, uma invenção dos seus inimigos. Aquele espírito tão fino, tão requintadamente «francês», não acreditava que um homem daquela envergadura fosse capaz de tal selvajaria.
O facto de Bonaparte ser culpado por muitos milhares de mortes no campo de batalha (por toda a Europa até à Rússia, passando pelo Norte de África) não parece fazer-lhe confusão, mas a ideia do general a abater a tiro galinhas e cabras é para ele intolerável. É típico.
Também em Portugal é assim: a guerra é vista como uma coisa heróica ou, no mínimo, um mal necessário. Ainda ontem fui ver a exposição «Portugal nas trincheiras» organizada pela Presidência da República. Saí de lá doente. Os nossos políticos da altura, Bernardinos Machados e quejandos, enviaram alegremente os nossos avós para a chacina. Não pegaram em armas para matar galinhas, mas enviaram para o matadouro milhares de filhos, irmãos e pais de família.
E os políticos de hoje fariam o mesmo, com a mesma tranquilidade com que lançaram para o desemprego meio milhão de portugueses para que os lucros dos bancos e das grandes empresas (onde ainda esperam vir a trabalhar antes da reforma) não sofram.
Se o povo tivesse um pouco mais de juízo que as galinhas, havia uma revolução todos os dias.

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