domingo, 22 de fevereiro de 2009

O sol, finalmente

Segunda, 16

Quando perguntavam ao filósofo romeno Alexander Drogomin o que escrevia, ele respondia: «Nada de importante, tento apenas compreender».

Terça, 17

Tenho agora a caneta perfeita e o caderno mais adequado. Foram precisos anos para chegar a este ponto. Parece uma coisa de nada, mas não é.

A felicidade esconde-se nas pequenas coisas. É um segredo que poucas pessoas conhecem. E são menos ainda as que o podem compreender.

Tenho um dom para ser feliz. Descobri-o muito tarde, já depois dos 40. Acho que herdei este dom dos meus avós maternos. Espero que os meus filhos o tenham herdado também.

Quarta, 18

Seis da manhã e já estou a ler Cioran. Que raio de maneira de começar o dia. O homem só fala da morte sob todas as suas formas. Morte, angústia, velhice, remorsos... um desfilar de negrume e lágrimas. Mas conheço poucos pensadores mais lúcidos do que ele.

Mais tarde

Visita da Quinta dos Loridos com o Luís Maio. Nos terrenos da quinta, cuja origem remonta ao século XVI, e que já pertenceu a uma família italiana e a outra espanhola, Joe Berardo está a construir um Jardim Oriental que tem que se lhe diga. Vale a pena a visita. O solar, que data da época dos descobrimentos, é uma réplica exata de um outro que existe na cidade de Cremona em Itália. Tudo ali são réplicas, aliás: os numerosos budas, as várias centenas de guerreiros de terracota, as fontes renascentistas. Muitos milhares de esculturas em pedra e barro importados da China. Da Inglaterra virão brevemente cerejeiras e flores várias. No futuro vão ali instalar-se vários núcleos museológicos. Um com pedras preciosas, outro com fósseis e o terceiro com louça de Rafael Bordalo Pinheiro.





19, Quinta

Acordo às duas da manhã e o meu cérebro dispara numa corrida louca, causada sabe-se lá pelo quê e para quê. São tantas as ideias que tenho que acender uma luz (mas não a luz, para não acordar a Raquel) para tomar notas. Preencho assim quatro páginas num ápice. Nada de especial: tarefas que devo levar a cabo, pessoas a quem devo telefonar, compromissos a que devo fazer face. O resto da noite foi uma desgraça. Tão depressa adormecia como acordava. Pelo meio, sonhos soltos, cenas tristes e/ou angustiantes.

20, Sexta-feira

Como dizia Cioran, quando vejo quem é famoso hoje em dia, congratulo-me por ninguém saber quem sou.

Sábado, 21

O homem antigo sentia-se observado por Deus, onde quer que estivesse e por isso observava algum recato. Hoje somos vigiados por câmaras que estão em todo o lado. E por detrás dessas câmaras estão «seguranças, pagos miseravelmente mas que desempenham na perfeição o seu papel de cães de guarda, ao serviço de gente corrupta e poderosa que quer ter o monopólio das malfeitorias.
Nesta sociedade, somos todos prisioneiros em liberdade condicional, controlados por indivíduos valem menos do que nós, mas que ganham milhões à nossa custa.

Domingo, 22

Morreu o João, cunhado do Ricardo, com uma septicemia galopante.

A realidade é apenas um aspeto da vida e, provavelmente, nem sequer é o mais importante.

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