sábado, 5 de junho de 2010

In memoriam




Eu estava no ginásio, a correr na passadeira quando, no meio de muitas outras, uma notícia me fez cambalear: «Morreu o escritor João Aguiar». Para desfazer qualquer dúvida que eu ainda pudesse ter, a sua foto apareceu no ecrã da televisão, enquanto o locutor afirmava que ele tinha 66 anos e morrera em consequência de um cancro.
Não era exactamente um amigo, mas trabalhei com ele durante algum tempo e ficámos com uma boa relação. Sempre que me via (a última vez que nos encontrámos fomos numa bomba de gasolina), falava-me muito bem. O João tinha um sorrido bonito, meigo e doce, era sempre um prazer conversar com ele.
Nunca li nenhum dos seus livros. Ele escrevia romances históricos e não é de todo o tipo de literatura que me interessa. Mas estou muito triste com o seu desaparecimento e queria deixar aqui expressa a minha saudade e consternação.
Não me escapou a ironia da situação: eu no ginásio a correr para, durante mais algum tempo, salvar a minha pele e o João, coitado, involuntariamente, veio-me lembrar que é tudo uma questão de tempo, que não há ginástica (nem física nem mental) que nos valha.
No seu «Livro dos mortos» (que continuo a ler, ao ritmo de duas, três páginas por dia), Elias Canetti chega a afirmar que não se devia dizer a palavra morte. Que ela não merece ser nomeada. Que é má demais para lhe darmos confiança. Durante uma boa parte da sua vida, o escritor búlgaro procurou dar-lhe luta, sabendo que era um esforço vão. Ninguém escapa à sua sorte; não vale a pena chamar-lhe azar.

Sem comentários:

Arquivo do blogue