Uma noite, em Marraquexe, um velho beduino aproximou-se de mim com um grande punhal (o cabo era forrado a pele, assim como a bainha) para me dizer que tinha vindo da montanha à procura de trabalho para alimentar a família. Desanimado, queria agora voltar para casa, mas não tinha um tostão. Tudo o que tinha era aquele punhal que me queria vender pelo dinheiro que eu quisesse dar.
Expliquei-lhe que não queria o punhal para nada, mas à boa maneira marroquina ele foi-me seguindo, sempre com a mesma lamúria, evocando os filhos e a fome que deviam ter. Por fim, lá lhe dei algum dinheiro pelo facalhão, que guardei na mochila.
Mais tarde nessa noite, quando regressava ao hotel, vi o mesmo velho a assediar outro casal de europeus, mostrando-lhes uma faca em tudo igual à que me tinha vendido. Quando me viu, com um sorriso maroto, piscou-me o olho e, virando-me as costas, colocou-se entre mim e os turistas que procurava enganar.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
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