Foi durante a minha primeira viagem a Marrocos, em 1976. Tinha decidido regressar de vez a Portugal, mas só depois de umas férias no Norte de África.
Uma das cidades que queria absolutamente conhecer era Fez, porque tinha trabalhado em França, durante dois anos, com um rapaz de lá, chamado Mustapha Hammouch (Muss, para os amigos). Na verdade, pertencíamos ambos a uma equipa de quatro pessoas que percorria a França de lés a lés em acções de formação para uma empresa que vendia enciclopédias de porta em porta.
Ele falara-me tantas vezes da sua terra, e da sua família, que me pareceu natural, estando em Marrocos, passar por lá.
Adorei Fez, é claro, e muito particularmente o seu cemitério, fora dos muros da cidade, e a incrível Medina onde, a toda a hora, passam por nós burros carregados com toda a espécie de mercadorias. A primeira coisa que aprendemos na Medina de Fez é a afastar-nos desses burros, conduzidos por loucos que gritam «Balek! Balek!» (que suponho queira dizer: «saiam do caminho!»).
A esses burros, chamavam na altura (e suponho que ainda hoje) os «táxis da Medina». Com efeito, as suas ruas são tão estreitas que nenhum veículo ali conseguiria entrar.
Abreviando: uma das primeiras coisas que fiz em Fez foi ir visitar o irmão mais velho do meu amigo Muss, que sabia ser empregado dos Correios. Como seria de esperar, ele ficou encantado por me conhecer (o irmão, obviamente, tinha-lhe falado de mim) e convidou-me para ir jantar em sua casa nessa noite.
Aceitei com agrado e à hora aprazada lá me apresentei, levando uma caixa de chocolates para oferecer à senhora Hammouch. Porém, quando o anfitrião me abriu a porta tive um choque: ele tinha vestido uma camisa que me pertencera (de que eu gostava muito, na verdade) e que julgava ter perdido.
Claro que não disse nada, e que apreciei devidamente o delicioso cuscus que me serviram (e que tive de comer com as mãos á boa maneira marroquina), mas fiquei a saber onde tinham ido parar as roupas que de vez em quando me desapareciam.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
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