Estou num teatro ao ar livre, com a Raquel, ali para os lados de Torres Novas. Ela vai encontrando pessoas que conhece e distrai-se a conversar com elas, esquecendo-se de mim. Um bocado chateado com a situação, vejo que há um lugar vazio na primeira fila do anfiteatro e vou ocupá-lo.
Está um carro na zona do palco. Quando a peça começa, um actor vem buscar-me pela mão, a mim e mais duas pessoas e leva-nos para dentro do automóvel, arrancando de seguida.
Para meu grande espanto, saímos do espaço do teatro e dirigimo-nos à cidade. De repente, o actor pára o carro e sem dizer nada, com a ajuda de umas pessoas que estão por ali, vira o carro de pernas para o ar connosco lá dentro.
Quando conseguimos sair cá para fora, o actor e os seus companheiros desapareceram. Uma das pessoas que está comigo vai para o lugar do condutor e propõe-se levar-nos de volta para o teatro. Vai, porém, bastante depressa e acaba por bater nas traseiras de um outro veículo que segue à nossa frente. O condutor parece não ter dado por nada e continua o seu caminho, mas eu vejo óleo a cair e algum fumo.
Num ápice, estamos do lado de fora do muro que cerca o teatro e temos que o escalar. Do outro lado, penetro num edifício que não conheço e procuro o caminho que me leve até à Raquel.
Sempre à procura de uma saída, abro uma porta que dá para um quarto onde está alguém a dormir. A pessoa acorda e quando me vê exclama: «Estes gajos do Expresso têm cá uma lata!».
É um jornalista que conheço e indica-me o caminho para o anfiteatro. Quando lá chego, porém, está vazio. Já não há nem actores, nem espectadores. Fico tão desconsolado que acordo, angustiado.
Post-scriptum: Como dizia Valéry, «Estás cheio de segredos a que chamas EU. És voz do teu desconhecido». Valéry dizia também: «Encontrar nada é. Difícil é acrescentar a nós próprios o que encontramos».
quarta-feira, 20 de maio de 2009
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