segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Albert Cossery



Albert Cossery faleceu o ano passado, aos 94 anos. Deixou um romance inacabado, do qual só se conhecem as primeiras dez páginas. Aqui ficam dois excertos:

«Mokhtar ignorava totalmente todos os governos, fossem eles eleitos ou impostos pela força das armas, pois todos saíam dos mesmos moldes e eram compostos pelos mesmos facínoras. Era, pois, estúpido querer substituir um governo, para acabar com outro pior que o precedente. E na necessidade de recomeçar sem fim esta comédia grotesca. Para Mokhtar, a única forma de combater um regime político só se podia conceber pelo humor e na derrisão, longe de qualquer disciplina e das fadigas que implicam geralmente qualquer revolução.»

(…)

«Esmagadas e fragilizadas, as massas humanas ainda sobreviventes no Globo tendiam a acreditar em tudo o que lhes impingia uma propaganda que ofende permanentemente a verdade. Ele percebera claramente que o drama da injustiça social só desaparecerá no dia em que os pobres deixarem de acreditar nos eternos valores da civilização, um palmarés de mentiras deliberadas, programada para os manter eternamente na escravatura.»

Admirável Cossery, que se manteve até ao fim lúcido e insubmisso.

1 comentário:

Anónimo disse...

Insubmisso, sim; lúcido... não sei.

Arquivo do blogue