sábado, 15 de agosto de 2009

Da imaginação

Marco Aurélio não gosta da imaginação. Nos seus «Pensamentos» (que acabei ontem de reler), passa o tempo todo a expulsar «os fantasmas da imaginação». Ele persegue a ««perfeição moral» (seja lá o que isso for) e defende uma «arte de viver» que passa pelo civismo absoluto. Afirma, por exemplo: «O que não é útil à colmeia, também não o é à abelha». Nesse sentido, propõe: «Corre sempre pelo caminho mais curto, que o caminho mais curto é o preferido da Natureza».
Ora a imaginação é exactamente o contrário: o caminho mais longo.

Aqui está uma boa definição para «imaginação»: o caminho mais longo.

2 comentários:

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Jorge Lima Alve, adorei ler este seu Pos, você foi infinitamente feliz na escolha deste texto,
meus cumprimentos, desejando um bom
FIM DE SEMANA

Efigenia Coutinho
Escritora

Anónimo disse...

Hmmm...!
Depende da perspectiva em que entenderes o termo.
Na do Oscar Wilde, imaginação e inteligência não se distinguem, o que, quanto a mim, é verdadeiro. Logo, contrariando o Marco Aurélio, será o caminho mais curto.
Mas se se entender a imaginação como um instrumento de fuga a si mesmo, então, na medida em que sou com o Outro, aí o homem teria razão nos dois sentidos, pessoal e social.
Uma terceira perspectiva, que apenas por questões facilidade de análise se pode distinguir da primeira, é a da imaginação como criatividade, chamemos-lhe fantasia. E essa é o sal da vida, que é como quem diz: o suporte ontológico do existir. E aí é que está o problema de que andámos a falar nos posts anteriores, já que o individual (auto-criativo) colide quase sempre necessariamente com o social, estrato de hábitos e rotinas indispensáveis à sobrevivência, em sentido lato.
O Marco Aurélio, como quase toda a Antiguidade, quis conciliar o individual com o público encontrando valores comuns. Só que, de facto, esses valores não existem, ou, por outra, só existem, a meu ver, dentro de um contexto de dinamismo do jogo a que me referi num comentário atrás: o poder e a liberdade como as duas faces inseparáveis do real.
Mas como diz o alzheimer da Sábia Sogra: isto digo eu, não sei...
Já leste "Contingência, Ironia e Solidariedade" do Richard Rorty (morreu no ano passado)? Há uma tradução portuguesa que não me parece má, na Presença. Fala destas coisas todas e, virtude maior do que todas as outras!, não é chato.

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