domingo, 10 de maio de 2009

Chavela Vargas




Isabela Vargas Lizano, que se tornou «imortal» sob o nome de Chavela Vargas, nasceu na Costa Rica, mas foi viver para o México aos 17 anos, onde se tornou num símbolo nacional, graças a canções como «La llorona», «Piensa en mí», «Volver, volver» ou «La Macorina». Aos 90 anos, a «raínha das rancheras» (como alguns lhe chamam) acaba de conceder uma entrevista bem reveladora ao diário espanhol «El País», que não resisto a transcrever, pelo menos parcialmente.
Da sua adolescência, Chavela não parece guardar grata memória. E chega a dizer que, para ela, a Costa Rica é a negação do mundo. «Ali não poderia ter lido nem a lista telefónica, pois os padres ter-me-iam comido viva.» Da sua vida naquele país, limita-se a contar que o seu principal passatempo era disparar sobre as cobras com uma pistola. E, com efeito, era tida por uma exímia pistoleira, por exemplo, por Diego Rivera e Frida Khalo, de quem foi amiga íntima. Conta-se que Chavela - que assumiu a sua homossexualidade numa época em que isso era ainda impensável - chegou a ser amante da pintora, mas sobre isso, nem uma palavra. Sobra a sua amizade com Diego e Frida, diz somente: «A certa altura, convidaram-me para ir a sua casa e fiquei a viver com eles dois anos. Aprendi todos os segredos da sua pintura. Segredos muito interessantes que nunca revelarei a ninguém. Eramos todos felizes: vivíamos o dia a dia, sem dinheiro, às vezes sem comer, mas sempre mortos de riso. Um dia, Trotsky foi lá a casa e eu perguntei: "Quem é este velho cabeludo?" E Frida pediu-me: "Não fales tão alto"».
Sobre a fama, desabafa: «Nunca me senti importante. Vivo a vida como se fosse um ofício. Com coração, com sentimento, pois não sinto que seja algo imposto pelo destino. E sinto-me muito contente. Cumpri a minha missão, com muito gosto. Com amargura, por vezes, com dor sobretudo, mas tudo isso passou. Não deixou cicatrizes na minha vida. Não tenho más recordações, tudo foi óptimo».
Antes de se despedir, lança em jeito de testamento: «Agora já vou tendo vontade de descansar para sempre. Já não devo nada à vida, nem ela me deve nada. Tenho vontade de me deitar no regaço da morte, pois deve ser muito belo. Talvez por isso tenhamos tanto medo da morte: porque deve ser lindíssima».

2 comentários:

joana lee disse...

agora não posso ver o video que o samuelito está a dormir mas fico muito curiosa. é tão bom poder ler-te aqui.
saudades mil

Marta Rema disse...

fantástico tudo. não sabia que ela era lésbica!

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