quarta-feira, 11 de março de 2009

Pura realidade

Que a realidade ultrapassa a ficção não é novidade nenhuma, mas quando certas realidades nos batem à porta sentimo-nos personagens numa ficção delirante. Leia-se este «post» do blog da minha filha e pasme-se:
«Esta história que vou contar é tão verdadeira quanto ridícula. Infelizmente afeta-me a mim e à minha família de uma forma extremamente intrusiva. E levanta outras questões muito mais complicadas.
Por causa de incidentes passados já me tinha apercebido que um dos nossos vizinhos era meio louco. A primeira vez que o cumprimentei à porta do prédio ele respondeu-me com um alarve peido. Noutras ocasiões posteriores ouvi-o queixar-se de meio mundo e acusar quase todos os vizinhos de o maltratarem.
O personagem - que vive numa casa tão badalhoca e mal conservada que amigos meus por julgaram estar abandonada ponderaram ocupar - vive sozinho há muitos anos. Tanto quanto consegui perceber vive na Holanda há mais de 30 anos. É espanhol e, das poucas vezes que conversámos, foi em castelhano.
Este inverno por não ter pago as contas do gás - e consequentemente ter ficado sem aquecimento central - passou os seus dias enfiado no coffee-shop do bairro.
Sempre simpatizei com o senhor e frequentemente insurgi-me contra o mal que diziam dele.
Desde há uns tempos, tinha reparado que ele andava em obras e ouvia frequentemente barulhos de berbequins vindos de sua casa. Sabendo do estado lastimoso em que ele vive não pude deixar de estranhar tal facto.
Um dia destes, por um dos buracos que ele fez, entrou-nos casa a dentro uma coisa que se parecia a uma antena. Quando confrontado com o facto ele limitou-se a dizer "se lo ay passado" e nós para evitarmos grandes confusões, e porque genuinamente acreditámos que era um acidente resolvemos dizer-lhe para ter cuidado mas deixámos as coisas por aí.
Ontem à noite, quando regressámos a casa, tínhamos nada mais nada menos que um buraco na parede. Espreitando por ele, podíamos ver a sala do vizinho. Depois de tocarmos à campainha e ele não responder achámos que o melhor seria chamar a polícia.
Depois de verem o buraco de nossa casa, os polícias foram a casa dele e quando a policia voltou e nos contou a versão dele, apercebi-me de que isto era o começo de uma saga.
Segundo ele, nós (leia-se a minha família) somos uns criminosos da pior espécie e (agora é que vem a cereja no topo do bolo) mantemos a Maddie presa dentro de nossa casa. Fomos nós que a raptámos no Algarve, porque claro somos portugueses, e a trouxemos para a Holanda.
Pior: a história já tem 8 meses, quando ele mandou a sua primeira carta a contar todo este filme à polícia. Parece que entretanto a embaixada portuguesa também já foi notificada do caso e mais umas quantas autoridades holandesas para as quais nem conheço nome mas que ele não se esqueceu de informar .
Ora aparentemente ninguém achou que nos devia comunicar tal barbaridade e todos assumiram que o senhor era demente e que o melhor seria ignorá-lo.
Roído pelo terror de saber que a Maddie estava prisioneira desta terrível família de portugueses o senhor desatou a esburacar a parede não sei bem com que intuito, destruindo a sua casa e, consequentemente, a nossa também.
Ele foi detido e levado para um estabelecimento psiquiátrico ontem onde passou a noite. Julgo que seja libertado hoje. Espero que sim. Eu por mim não consegui dormir com a ideia de que tal personagem existe e sofre como sofre.
Claro que também estou preocupada com a segurança da minha família apesar de achar que o senhor é "inofensivo" e que, acima de tudo, tem muito medo de nós.
Mas pior que tudo é a milícia popular que em poucas horas se levantou em nossa defesa e que está confiante que os vamos ajudar a correr com esta pessoa do bairro.
Uma das minhas vizinhas dizia ontem com estranha convicção: "the only solution is eviction."
Ora se há coisa que eu não vou fazer é assinar o peditório desta gente e mais: espero que o senhor seja libertado quanto antes, mediante medicação, para que o possa convidar a ver por si que a única criança dentro de minha casa tem pilinha e não dá pelo nome de Maddie.»

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