Reler Thoreau foi uma inspiração. Lé-lo, ou relê-lo é, aliás, sempre uma inspiração. O seu Walden (escrito em 1849) é uma das obras mais inspiradoras que existem. Que lição de vida!
O livro marcou-me em mais do que me lembrava e ao relê-lo apercebi-me onde fui buscar algumas das minhas ideias mais enraizadas. Aquilo que penso sobre os filósofos e a filosofia, por exemplo, está profundamente marcada pela leitura deste livro. Escreve ele: «Existem, hoje em dia, professores de filosofia. Contudo, não existem filósofos. Ser filósofo não é somente ter pensamentos engenhosos, nem sequer fundar uma escola, mas sim amar a sabedoria a ponto de viver, de acordo com os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnificência e confiança. É solucionar alguns dos prolemas da vida, não só a nível teórico mas, de igual forma, a nível prático.»
Para Henry David Thoreau (1812-1862), como para mim, a maioria das pessoas, não chega a colher «os frutos mais saborosos da vida». Como ele diz: «A maioria dos homens leva uma vida de mudo desespero. O que é apelidado de resignação é na verdade um desespero incurável».
Como ele, penso que «a grande parte daquilo que os meus vizinhos consideram ser bom, eu acredito com toda a alma que seja mau» e que «o luxo de uma classe social é contrabalançado pela indigência de outra».
A esse respeito, lembra que os escravos que construiram as pirâmides, viviam em tendas, comiam alho e não eram enterradas decentemente. Evidentemente, vieram-me à memória os novos escravos do Dubai que constroem as maiores maravilhas arquitectónicas e urbanísticas do mundo moderno, mas vivem empilhados em armazéns miseráveis, para ganhar meia-dúzia de tostões.
Não se pense que estamos tão longe disso, aqui em Portugal, onde alguns gestores e patrões fazem fortunas nas nossas costas. Literalmente, pois ao trabalhar nas suas empresas é como se andássemos com eles às cavalitas o dia todo.
Como diz Thoreau, há milhões de homens e mulheres suficientemente despertos para trabalhar, mas apenas um em cada cem milhões está suficientemente desperto para uma vida poética.
Sim, como ele afirma, «a nossa vida é desperdiçada em pormenores» e a capacidade, que todos possuimos, de «influenciar a qualidade do dia, eis a mais ilustre das artes». Thoreau tem carradas de razão: o intelecto é (ou devia ser) um cutelo, usado para discernir e abrir caminho para o segredo das coisas. Quanto à nossa maneira de viver, a palavra de ordem devia ser: simplicidade, simplicidade, simplicidade!
quarta-feira, 25 de março de 2009
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1 comentário:
Bravo!
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