quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ficção rápida



«Trata-me mal, bate-me e insulta-me, é assim que eu gosto», pediu-me ela.
Devo ter ficado com cara de parvo. Depois, quando percebi que estava a falar a sério, disse:
«Desculpa, não consigo.»
«Então, nada feito, só consigo ter prazer se sofrer um bocado.»
«Queres que te dê uma estalada? É isso?»
«Na cara, não. No rabo, por favor.»
Ela pôs-se a jeito e eu soltei uma gargalhada.
«És doida.»
«Talvez. Não sei. É assim.»
«Que nomes queres que te chame? Puta, cabra, coisas assim?»
«O que tu quiseres. Quanto pior melhor.»
Voltei a rir e ela pediu, com um ar muito sério:
«Faças o que fizeres, por favor, não rias.»
Estava agora toda nua e era estupenda. Muito branca, pequena, parecia uma figura de procelana.
«Pareces tão frágil», disse eu. «Como posso bater-te?»
«Não sou tão frágil como isso... Experimenta.»
Aproximei-me para examinar o sexo dela. Estava fascinado pela ausência de pêlos púbicos.
«Porque é que te rapas?», perguntei.
Ela impacientou-se.
«Assim não vamos a lado nenhum.»
Disse isto e afastou-se, indo deitar-se sobre a cama. Fui atrás dela e ajoelhei-me à sua beira.
«Deixa-me beijar-te», pedi.
«Depois. Mais tarde. Primeiro tens que fazer o que te pedi.»
De repente, senti-me ridículo, ali de joelhos no chão e levantei-me, para voltar a sentir alguma dignidade.
«Não esperava por uma coisa destas», murmurei, lembrando-me de súbito que ela era casada com um amigo meu.
«Que esperavas, então?»
«Não sei. Tudo menos isto.»
«Também eu nunca imaginei que fosses tão mariquinhas», asseverou ela.
Disse isto, abrindo uma gaveta da mesa de cabeceira de onde tirou um pequeno chicote que me estendeu.
«Toma. Usa-o bem.»
Antes que eu pudesse reagir, tirou da mesma gaveta umas algemas.
«Queres pôr-me isto?»
Larguei o chicote em cima da cama para pegar nas algemas. Estava fascinado com a situação. Assustado e fascinado. Experimentei as chaves e funcionavam na perfeição. Ela juntou os pulsos atrás das costas e ordenou-me: «Fecha-as».
Apertei-lhe as algemas e ela acrescentou:
«Agora, podes fazer-me o que quiseres.»
Eu não me conseguia mexer.
«Dá-me com o chicote, vá lá.»
Como que a medo, obedeci. Dei-lhe uma chicotada no rabo, bem sonora.
«Com mais força», pediu ela.
Passou-me uma coisa má pela cabeça e golpei-a com mais força. Zás! Zás!
«É assim que queres, minha puta de merda?», rosnei.
«Sim, sim», gemeu ela.
Voltei a bater, duas, três, quatro vezes. Cada vez com mais força. As marcas nas nádegas dela, os gemidos langorosos, excitaram-me, confesso e, não me contendo, deitei-me sobre ela para a beijar. A filha da mãe mordeu-me o lábio com força, fazendo-me berrar com a dor. Senti o sangue sujar-me a boca, depois vi o sangue nas minhas mãos.
«És mesmo louca, minha filha da puta.»
Disse isto e saí porta fora, deixando-a ali, nua, algemada, louca.
«Amanhã», prometi a mim mesmo, «vou esquecer esta história toda».

PS - A ilustração é de um artista da Geórgia chamado Juul Kraiger.

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